ASSASSINATO NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
JÔ SOARES......(2005)
Mas a fórmula parece dar sinais de cansaço. Se não em termos de vendagens, já que Assassinatos na Academia Brasileira de Letras vem permanecendo durante semanas na lista dos mais vendidos; pelo menos na questão criativa. A história toda se desenrola de maneira tão mecânica, metódica e linear, que chega a ser previsível. Falta paixão. É como se Jô Soares tivesse descoberto a fórmula de sucesso e não precisasse mais criar. Apenas aplica a estrutura: humor, mistério, curiosidades históricas; e em cima dela, insere o cenário, a época e os personagens. Aquilo que um dia já foi visto como diferente – a mistura entre ficção e fatos históricos, o uso de imagens e textos de jornal – hoje não impressiona mais, ficou desgastado.
O cenário desta vez é o Rio de Janeiro de 1924, ano em que a então capital do país se encontrava sob estado de sítio e a sociedade carioca vivia a expectativa da construção do Cristo Redentor no Corcovado. O narrador onipresente tem um quê de guia turístico, fala de curiosidades como a origem do termo jornalismo amarelo, dá um breve histórico dos venenos e conta alguns percalços na inauguração do Copacabana Palace.
A história começa quando o imortal Belizário Bezerra, autor do livro Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, morre durante seu discurso de posse na Casa de Machado de Assis. No dia seguinte, o jornal O Paiz informa que, apesar do título sugestivo do livro de Bezerra, onde os imortais iam sendo assassinados um a um, a explicação encontrada para a sua morte foi um ataque cardíaco, causado pelo nervosismo da cerimônia. Mas quando o também imortal Aloysio Varejeira morre enquanto se preparava para discursar no enterro do colega, o comissário de polícia Machado Machado acha coincidência demais. Através da autópsia, ficam comprovados os assassinatos, ambos por envenenamento.
Criado o mistério, a leitura segue fácil. Assassinatos na Academia Brasileira de Letras é daqueles livros para serem lidos de um fôlego só. A curiosidade para entender as pistas, descobrir quem é o assassino e quais foram as suas motivações, funciona. Servem como cenouras penduradas em frente ao cavalo, estimulando-o a seguir em frente, nutrindo a ânsia dos leitores em encaixar as peças do quebra-cabeça. Mas quando chegamos ao fim, percebemos que tudo foi apenas um bom passatempo, sua vida em nada mudou e você continua o mesmo.
Por: Thiago Corrêa
PS:O ano é 1924 e a cidade é o Rio de Janeiro. O cassino do Copacabana Palace foi inaugurado e o glamour e sofisticação já estavam presentes em Ipanema desde então. Era pelo centro da cidade maravilhosa que circulava a alta sociedade e os grandes intelectuais em atividade em nosso país. Mal sabem estes pensadores que um serial killer está à solta, exterminando somente um tipo de vítima: os membros da prestigiada Academia Brasileira de Letras.
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