quinta-feira, 22 de março de 2012

Bons Livros que Conheço....(56)



DEMIAN 


HERMAN HESSE    (1919)


Enquanto o mundo se diverte ao redor da televisão, em mesas de bar ou no escuro das boates, alguém está enclausurado num canto, sozinho, escrevendo ou lendo algum livro. Literatura é arte para solitários, feita por gente com o mal da crítica e da observação, gente que se isola, mantém distância por não conseguir ser como os outros. Arte da frustração, das ruminações silenciosas em meio ao barulho, do inconformismo e da necessidade em dialogar. Arte de, sobre e para outsiders.

Tema recorrente da literatura, a incompatibilidade social é o mote principal de Demian (1919), livro escrito por Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de 1946. Nele, o autor de Sidarta e O Lobo da Estepe retrata o doloroso processo de (trans)formação intelectual de Emil Sinclair, o narrador que cresce, enxerga novos horizontes e já não se encaixa no universo do seu lar.

De família burguesa e bem sucedida, Sinclair é uma espécie de Adão do mundo moderno, que, numa referência à Bíblia, vê-se expulso do paraíso por causa do fruto proibido. Depois de contar vantagem aos colegas fantasiando uma história sobre roubos de maçã, Sinclair passa ser chantageado por Franz Kromer, um garoto mais velho de escola pública, que ameaça denunciá-lo.

Com medo, Sinclair cria uma distância da família, recolhendo-se à solidão enquanto fica sob influência do mundo sombrio de Kromer. O isolamento só termina com a chegada do novo aluno Max Demian. Demonstrando segurança e convicção em suas idéias, ele logo conquista a amizade de Sinclair, ajudando-o a se livrar do algoz. O narrador constrói Demian como um herói cheio de mistérios, o messias que, ao invés de guiá-lo, encoraja-o a construir seus próprios caminhos rumo à vida adulta, questionando princípios morais já adquiridos.

O trajeto de Sinclair é recheado de solidão, paixões platônicas e incertezas. Durante sua busca existencial, ele tenta se achar em meio ao dualismo da influência da igreja e das aventuras nos bares com seus colegas de escola. Mas só encontra consolo na imaginação.

PS: É de referenciar que este obra foi escrita pelo autor depois das experiencias marcantes que viveu, derivadas da I Guerra Mundial e, como tal, incorpora o espírito de mau presságio e tormenta que se vivia nos anos que antecederam esta guerra.


Nenhum comentário:

Postar um comentário