quinta-feira, 8 de março de 2012

Bons Livros.....(54)



TOCAIA GRANDE 


JORGE AMADO      ( 1984)


A narrativa de Tocaia Grande nos leva para o nordeste dos jagunços e coronéis. Da religiosidade e misticismos. Das mulheres-damas e esposas atreladas aos desígnios de seus senhores. Dos plantadores de cacau.
Enfim, Tocaia Grande é a saga do jagunço Natário da Fonseca, caboclo de feições carrancudas que serve ao coronel Boaventura, livrando-o de emboscadas e tocaias, em questões de posse de terras do sertão devoluto. Por ser um empregado honesto e leal, será mercador de um pedaço de terra nos confins-do-judas do sertão nordestino.
A narrativa inicia-se quando o jagunço Notário, ao arquitetar uma emboscada, por problemas políticos, a inimigos do coronel Boaventura, delimita a localização e a posição dos jagunços pedindo ao coronel que lhe faça o favor de deixá-lo tomar um pedaço de terras nas cercanias; pois o caboclo tem a intenção de plantar pequena roça de cacau, para poder, no futuro, ser dono do seu próprio nariz, com o empenho da palavra que sempre servirá ao coronel, pois ele que lhe deu guarida quando apareceu naquelas bandas, foragido de outra cidade. Em resposta o coronel lhe diz que só não lhe permitirá que posse das terras como o fará capitão.
Após a tocaia dos inimigos, com vitória do capitão Natário, este domina o lugar de Tocaia Grande.
Com o passar dos tempos, afluem para a localidade de Tocaia Grande um turco de nome Fadul Abdala, que logo abriu um pequeno comércio para venda de cachaça, rapaduras, farinha,... e algumas mulheres-damas para o deleite dos tropeiros que começaram a fazer de Tocaia Grande cominho de passagem em suas idas e vindas, o que transformou o lugar em lugar de pernoite.
E Tocaia Grande começa a crescer: de lugar de pernoite, passa a arruado, a lugarejo, a arraial, a povoado, a cidadela e a cidade de Irisópolis. Mas, para chegar a cada posto teve de enfrentar de tudo um pouco: enchentes, peste, e a tocaia maior contra o povo tocaiagrandense, a mando do filho do coronel Boaventura, para satisfazer os caprichos de uma russa com ares de madame, porém que não passava de uma bisca sem vergonha.
No desenrolar da narrativa vamos topando com Castor Abdium, mais conhecido por Tião, que vai dar em Tocaia Grande por estar sendo perseguido pelos homens do Barão, sendo ao qual servia, mas por ter traçado a esposa e a empregada predileta deste e o mesmo ter presenciado tal descaramento, se põe em fuga; Bernarda, afilhada do Capitão Natário que após a morte de sua mãe, depois de ter sido estuprada e seviciada pelo pai, foge para as paragens de Tocaia Grande, tornando-se amante do Capitão Natário, com o qual tem um filho, além de continuar na labuta como prostituta. Jacinta Coroca que passa da condição de velha prostituta a parteira; uma família de sergipanos que expulsos da fazenda onde moravam e eram agregados, se põem na estrada em busca de melhor lugar para viverem; no caminho topam com o Capitão Natário que lhes fala de Tocaia Grande e lhes diz que lá eles serão donos de suas terras. Ninguém mandará neles, muito menos os expulsarão. Nesta família de sergipanos encontramos Diva, menina que ao transformar-se em moça acaba sendo motivo de apostas em Tocaia Grande, pois tem dois pretendentes: Tição, negro ferreiro e Bastião da Rosa, carpinteiro loiro de olhos azuis. É com Tição que Diva se amasia e tem um filho.
Em Tocaia Grande quem se gosta se amasia, pois o lugar não tem igreja, não tem padre. É um porto livre dos tabus e moralidades da sociedade. As coisas acontecem de acordo com as conveniências e necessidades.

PS: Publicado em 1984, Tocaia Grande descreve o processo de formação de uma cidade nordestina, nascida sob o signo da violência e da disputa de terras, em inícios do século XX. 
Depois de liderar uma tocaia contra o oponente de seu patrão, o jagunço Natário da Fonseca recebe alguns alqueires próximos ao palco da matança, onde passa a cultivar cacau. A chegada de comerciantes, prostitutas, tropeiros e ex-escravos ao local dá vida e contornos ao arraial.
Personagens fortes, independentes e solitários - como a cafetina Jacinta Coroca; o negro Castor Abduim, conhecido como Tição Aceso, e o comerciante libanês Fadul Abdala -, encontram em Tocaia Grande um refúgio e o conforto da amizade.
Com a prosa leve e bem-humorada de sempre, Jorge Amado relata a união profunda e os laços de afeto que se desenvolvem entre os habitantes de Tocaia Grande, e que serão responsáveis pelo crescimento do povoado e por sua resistência à pressão da Igreja e do poder político-econômico para se enquadrar no sistema coronelista.

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