"NEM VEM QUE NÃO TEM"- A VIDA E O VENENO DE WILSON SIMONAL
RICARDO ALEXANDRE (2009)
De menino pobre a ídolo pop. De maior astro do país ao banimento sumário dos palcos, da mídia, da história. Wilson Simonal descreveu a mais meteórica e trágica curva de ascensão e queda já vista no Brasil. Na metade final dos anos 1960, Simonal rivalizava apenas com Roberto Carlos em termos de popularidade. Dez anos depois, acusado de ser o mandante do sequestro e tortura de seu contador, foi estigmatizado como delator a serviço da ditadura militar – e, oficiosamente, acabou condenado ao ostracismo artístico até morrer em 2000, corroído pelo álcool, pela depressão e pelo esquecimento do público.
Simonal era culpado ou inocente? Dedo-duro ou vítima de difamação movida por rancor, inveja, racismo?
Nem vem que não tem se dedica a decifrar um enigma da música popular brasileira: como e por que o Brasil virou as costas para o cantor que era a voz e a cara do Brasil? Por meio de uma narrativa envolvente, o autor reconstitui passo a passo a trajetória de Simonal e suas muitas circunstâncias: do cotidiano de humilhações a que um negro brasileiro estava sujeito nos 40 e 50 ao resgate da autoestima com a descoberta do talento musical; dos arroubos de prepotência do artista mais bem pago do país à insuspeitada ingenuidade de quem se julgava malandro, mas acabou com uma conta imensa para pagar, “exilado” no próprio país pelo resto da vida.
PS: Wilson Simonal foi uma figura controvertida e intrigante. Lançava moda, fez todo mundo querer umMug, rivalizava com Roberto Carlos em termos de popularidade, fez programa televisivo com Elis Regina, cantava (e muito bem) as músicas que as pessoas queriam ouvir, foi muito querido pelo público e, parece-me, um tanto quanto despreparado ou ingênuo para lidar com os meandros da fama. Ele caiu em desgraça quando surgiram rumores de que ele seria colaborador e informante do governo militar, em outras palavras: dedo-duro. Sinceramente, mesmo depois de ter lido sua história, eu não consegui vislumbrar a verdade... realmente não me convenci nem da sua "inocência" e muito menos da sua "culpa". Porém, uma coisa é certa o cara enfrentou uma barra duríssima, capaz de romper a estabilidade emocional de qualquer um. E não foi diferente. Ele se acabou. Literalmente. Muito bacana a participação e o apoio de seu filho Simoninha, que tudo fez para segurar a barra do pai e da família. Um exemplo, na minha opinião. A biografia de Simonal, não apenas nos conta sua trajetória, mas também, nos traça um breve retrato de um certo período da História recente do Brasil. Recomendo a leitura.
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