VOCÊ NÃO PODE SER NEUTRO EM UM TREM EM MOVIMENTO
HOWARD ZINN (2005)
A Autobiografia
O livro Você não pode ser neutro num trem em movimento (L-Dopa Publicações: 2005) é a autobiografia do historiador norte-americano Howard Zinn. Zinn é um dos responsáveis pela perspectiva denominada história radical, que enfatiza os movimentos sociais em suas lutas, resgatando do passado uma inspiração para o presente. Em Você não pode ser neutro num trem em movimento, Zinn narra sua trajetória de vida permeada de envolvimentos políticos, a partir de seu trabalho como estaleiro e como aviador na Segunda Guerra Mundial, seu posterior envolvimento com o movimento pelos direitos civis no Sul e sua oposição à Guerra do Vietnã.Não apenas um historiador, Howard Zinn une a perspectiva teórica ao engajamento prático – é o mesmo tempo um organizador e participante em movimentos sociais, além de um estudioso que procura embasamento e lições em movimentos anteriores. “O relacionamento entre organizadores e idéias é frequentemente de sinergia – organizadores e ativistas com origem no povo são influenciados pelas idéias dos acadêmicos e intelectuais, que são inspirados pelos ativistas, alguns dos quais podem estar teorizando enquanto fazem seu trabalho. Em alguns casos, como o do ativista e historiador Howard Zinn, ser um organizador e um intelectual não são papéis separados”, diz Loreta Pyles. Para tomar um exemplo de sua autobiografia, ao lecionar na Universidade de Spelman na década de 50 – instituição de ensino composta por mulheres negras – Zinn “ampliou o currículo” das alunas incentivando-as a lutar contra a segregação nas bibliotecas. Esse movimento se somou a outros tantos na luta pelos direitos civis dos quais Zinn participou e relata.
Enfático em sua oposição a qualquer tipo de guerra, Zinn defende a prática do estudo do passado como e somente como libertação. “O apelo moral da guerra”, escreve ele, “é baseado no esquecimento da história pelas pessoas e na habilidade da mídia de massa e da Administração em obliterar a história, certamente não em revelá-la.”
Não há como se eximir de uma interpretação, e portanto de um juízo. O simples ato de escolher este ou aquele ponto sobre o qual trabalhar, em meio ao infinito de temas, é uma escolha, uma escolha com conseqüências. O que Zinn enfatiza é que no estudo histórico o ponto inescapável é o presente. O que é irônico é o fato de que quando historiadores fazem de fato julgamentos morais eles são sobre o passado, e de uma maneira que podem na verdade enfraquecer a responsabilidade moral no presente.” O professor norte-americano constrói sobre o ato de “despertar no passado centelhas de esperança” o seu modelo de interpretação e também de ação.
PS: Howard Zinn toma partido – e sua autobiografia é uma caso privilegiado – ao fazer da história lugar de uma descoberta para nossos tempos. A história pode ser uma história de justificativa para a situação presente e os poderes que a dominam.
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