quinta-feira, 24 de maio de 2012

Bons Livros.... (65)



HELL`S ANGELS

HUMTER S. THOMPSON .......(1967)

Sua primeira reportagem longa convertida em livro, no embrião do estilo gonzo. A primeira, para ser educado e não dizer que foi uma das únicas reportagens longas -- é notória a fama de Thompson em não encerrar suas reportagens e estourar prazos, ainda mais quando tratava-se de costurar artigos ao longo de um período num só texto coeso. Quando ele se dava ao trabalho, podia sair Campaign Trail '72, tido na época como um dos livros mais importantes sobre a disputa presidencial norte-americana
daquele ano. Mas raramente ele se dava ao trabalho.
No caso de Hell's Angels, deu, e a partir de uma reportagem rápida para uma revista, surgiu o convite para que ele estendesse o assunto em um livro, o assunto sendo a emergência pública da gangue de motoqueiros chamada Hell's Angels nas estradas da Califórnia. Como Thompson era jovem e ambicioso, fez um pouquinho mais do que investigar dados, envolvendo-se com os membros e juntando-se a eles em convescotes, finais-de-semana, acampamentos com intimidade suficiente para traçar um detalhado perfil social, psicológico e cultural do Angel típico, num impressionante trabalho antropológico. Foi ele quem gravou em fita o encontro do líder dos Angels, "Sonny" Barger, com Ken Kesey, recriado por Tom Wolfe no livro The Eletric Kool-Aid Acid Test, ao receber a fita de Thompson.
Apesar do livro ter sido construído sem a coesão que um Gay Talese emprestava aos perfis de Joe DiMaggio e Floyd Patterson que fazia para a Esquire na mesma época, se equipara à radiografia dos esquisitos tipos de Tom Wolfe fazia em The Pump-House Gang -- 1965 foi definitivamente um ano bom para o new journalism. Hunter mudara-se para San Francisco e morava na Haigh-Ashbury, pertinho de um dos bares onde os Angels se reuniam -- seu quartel-general oficial ficava do outro lado da baía, na cidade portuária de Oakland. Além do contato próximo, Hunter gastou pestana coletando dados da associação de motociclistas e dos jornais para desmontar a idéia comum de que os Hell's Angels eram a horda de bárbaros modernos que então inspirava inúmeros filmes B e pelo menos um famoso, O Selvagem, com Marlon Brando.
Particularmente antológicas no livro são as descrições da "sensação de liberdade" nas enormes viagens em comboio pelas autovias, a análise das causas do crescimento do número de motoqueiros na Califórnia e a descrição do clima pesado de bebedeira e violência que rolavam nos encontros (um deles é descrito por Freewhelin' Frank, secretário (?) dos Hell's Angels, no livro Negócio Seguinte, deLuís Carlos Maciel). Thompson procura embasar filosoficamente o surgimento dos Hell's Angels com citações notórias, na abertura de cada capítulo.
O final da reportagem é emblemático: incomodados com o aumento das aparições na mídia e a notoriedade do repórter, Thompson é violentamente espancado por quatro Angels, o que lhe custa alguns meses de hospital e o faz concluir o texto com com a famosas palavras de Joseph Conrad ao final de O Coração das Trevas, chamando-os de brutos. O que não deixa de ser paradoxal, após um livro inteiro dedicado a descontruir o rótulo de bárbaros que se costumava pregar nos motoqueiros... O horror que Hunter tomara pela gangue pode ser atestado pela resposta enviada a um leitor que escrevera-o manifestando desejo de se juntar à gangue, presente no comecinho de The Pride Highway. Hunter diz que achava-o inteligente o suficiente para se unir àquele bando de selvagens...
POR: RAFAEL LIMA.

PS: Com preço bastante acessível e com o advento da internet Agora acabou a desculpa de que era difícil encontrar Hunter Thompson em português. Vamos ver se a gente entende o que era esse raio de jornalismogonzo, enfim.

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