segunda-feira, 25 de julho de 2011

22 HORAS POR DIA NA CAMA.


A Bela Adormecida existe e chama-se Louisa. Tem 17 anos, parece uma princesa e dorme. Se nós contamos as horas de sono, a inglesa Louisa Ball conta o sono em dias. Dias e mais dias de uma adolescência que ela quase não viu passar

Bela Adormecida de verdade não vive em um castelo, e, sim, em uma casa comum, perto do mar, no sul da Inglaterra. O sono não foi provocado por nenhuma bruxa, e, sim, por uma doença rara. E a diferença mais importante é que, na vida real, o conto de fadas às vezes parece um pesadelo.

Tudo começou três anos atrás. Depois do que pareceu uma gripe normal, a menina tranquila se transformou: virou agressiva, xingava os pais. A mãe conta que não a reconhecia: "Parecia uma outra menina", ela diz.

Louisa só se acalmava dormindo. Até hoje, as crises de sono duram de uma a duas semanas e não adianta ninguém chamar.

Ela passa 22 horas por dia na cama. Depois: comida, xixi e cama de novo. Acorda sem se lembrar de nada, cinco quilos mais magra e com uma fome! O pai conta que o apetite da filha também parece fora do normal: “Ela come um pacote inteiro de biscoitos, cinco ou seis pacotes de batata frita. Tudo o que está ao alcance das mãos”.

No início, os pais não sabiam o que fazer. Richard Ball conta que levou a filha ao hospital da cidade, mas os médicos não tinham ideia do que se tratava. Ele diz: “Passa tudo pela cabeça de um pai, e eu me perguntava, será que minha filha usou alguma droga?”.

Até que, depois de muita busca, um hospital de Londres chegou ao diagnóstico: síndrome de Kleine-Levin, ou SKL, uma doença que não tem cura.

O médico brasileiro Leonardo Fontenelle é especialista no assunto. Ele diz que a SKL é rara e uma bela adormecida, raríssima. "A síndrome de Kleine-Levin é muito mais frequente em adolescentes e existe um acometimento preferencial de adolescentes do sexo masculino. A taxa, a razão homens-mulheres, é mais ou menos de 4 para 1, ou de 2 para 1, dependendo dos estudos”.

A doença é tão rara que um dos maiores problemas dos médicos é a falta de pacientes para estudo, mas a ciência já tem algumas hipóteses. Uma das teorias mais consistentes seria de que existiria uma disfunção em uma estrutura do cérebro conhecida como hipotálamo, que é uma estrutura envolvida com as funções neuro-vegetativas, incluindo aí, o sono, as funções sexuais ou mesmo o apetite.

Entre uma crise de sono e outra, Louise tem uma vida normal, que inclui dormir de noite e ficar acordada de dia, como a maioria das pessoas.

Os estudos mostram que a doença desaparece sozinha depois de 10 ou 12 anos. Mas um período crítico da vida está passando, sem que ela possa notar. Louise diz: “Já perdi feriados em família, aniversários e outras festas”.

Além disso, já perdeu provas de fim de ano na escola e competições do que ela mais ama: o balé. Mas depois de uma semana de sono, pelo menos, ela acorda renovada.

Na Inglaterra, Louise é chamada pelos jornais de "a verdadeira Bela Adormecida". Só para lembrar a história: no mundo da fantasia, uma linda princesa cai no feitiço de uma bruxa malvada, espeta o dedo em um fuso e é condenada a um sono que vai durar 100 anos. Até que um príncipe encantado aparece e quebra o feitiço com um beijo.

Louise não se incomoda em ser comparada com a princesa dos contos de fadas. Ela quer divulgar a SKL, para quem sabe, ajudar a encontrar a cura da doença.

A história dessa Bela Adormecida não começou com "era uma vez", mas pode terminar com um "felizes para sempre".

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