quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Corra que o tumulto esta formado...


MENINA DE 11 ANOS, DESIGNER, PROFESSOR E UNIVERSITÁRIOS SÃO PRESOS POR PARTICIPAÇÃO EM QUEBRA-QUEBRA E SAQUES NAS RUAS INGLESAS

Uma menina de 11 anos está entre as centenas de indiciados pelos distúrbios que atingiram a Inglaterra nos últimos dias. A menina – cujo nome não foi divulgado – foi acusada de depredação e tentativa de depredação na cidade de Nottingham, norte da Inglaterra.

Ela se junta a um menino também de 11 anos, acusado de roubar um cesto de lixo em uma loja saqueada no bairro de Romford, em Londres, na lista de 500 indiciados e 1.400 presos pelo quebra-quebra que se espalhou pela Inglaterra.

A idade dos dois chocou o Reino Unido, e, à medida que os perfis dos responsáveis pelos ataques começa a surgir, outros fatores começam a surpreender o país.

O comparecimento dos suspeitos a tribunais vem mostrando que os responsáveis pelos saques e pela depredação não foram somente adolescentes desempregados de baixa renda sem valores e sem perspectivas de futuro, como muitos se apressaram a classificar.

Um dos envolvidos nos distúrbios a ser acusado formalmente, por exemplo, foi o professor-assistente de primário Alexis Bailey, de 31 anos, preso em uma loja saqueada de Croydon, no sul de Londres, na noite da segunda-feira.

Segundo o especialista em assuntos legais da BBC Clive Coleman, a maioria dos indiciados pelos tribunais britânicos com acusações relacionadas aos distúrbios são homens na faixa de vinte e poucos anos. Mas é nas profissões ou ocupações e alguns dos envolvidos que está a surpresa:

“Entre os acusados na terça-feira havia um designer gráfico, estudantes universitários e de pós-graduação e um homem que havia recém se alistado no Exército”, diz Coleman.

Segundo ele, muitos dos indiciados alegaram nos tribunais que são pessoas que levavam uma vida tranquila e que têm um bom caráter, mas que simplesmente caíram na tentação de cometer um crime no calor do momento. O advogado de um dos acusados reconheceu que seu cliente cometeu um delito, mas alegou que o fato aconteceu em “um momento de loucura”.

Perplexidade

Políticos e acadêmicos reagiram com perplexidade aos distúrbios dos últimos dias. Uma cidade aparentemente tranquila e relativamente segura se incendiou de repente sem que estivesse claro quem estava por trás disso e muito menos por que razão faziam aquilo.

Não parece haver um elemento racial nem político ou econômico na onda de violência que se iniciou na noite de sábado em Tottenham, no norte de Londres, e se espalhou pelo país.

Mais de 1.400 pessoas já foram presas em todo o país nos últimos dias, com mais de 500 indiciamentos.
Os acusados estão sujeitos a penas de prisão de até seis meses.

Sem controle

Para John Pitts, professor de direito da Universidade de Bedfordshire, um dos elementos que ajudou a disseminar os saques foi que muita gente “percebeu que podia fazer isso sem controle”.

“Quando viram na TV ou seus amigos contaram que isso estava acontecendo, a coisa saiu do controle. Achavam que podiam fazer o que quisessem sem que ninguém fizesse nada para evitar”, afirmou Pitts à BBC.

Uma jovem de Brixton, no sul de Londres, que falou à BBC confirmou essa visão: “Quando as pessoas viram o que tinha acontecido em Tottenham, viram os roubos nas lojas, todo mundo se excitou e pensou: ‘Uau! Coisas grátis!’ E pensaram que também podiam fazer a mesma coisa”.

A sensação de impunidade foi tanta que em algumas lojas era possível ver os saqueadores provando as roupas antes de levá-las.

Gangues

Um elemento que não se pode menosprezar para tentar entender a situação é que os piores enfrentamentos ocorreram nos bairros mais pobres da capital, onde o desemprego juvenil é maior.

Como observa Pitts, os bairros com os piores distúrbios, como Tottenham e Hackney, no norte de Londres, e Croydon, ao sul, são locais onde a polícia detecta a presença de gangues.

Ele observa ainda que muitos desses bairros têm “um histórico de confrontação com a polícia”.

O escritor e jornalista comunitário Darcus Howe, nativo de Trinidad e Tobago e que mora em Londres há décadas, disse à BBC que não estava surpreso com a violência ocorrida nos últimos dias.

“Escutando meu neto e meu filho, sabia que algo muito grave ia ocorrer neste país”, afirmou Howe, que disse não considerar o ocorrido como um distúrbio, mas como “uma insurreição”.

Apesar da posição de Howe, a grande maioria dos analistas e os próprios jovens que deram declarações à mídia nos últimos dias dizem que não há um movimento político por trás da violência.

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